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Local: Garuva, SC, Brazil

Professor de História concursado e lotado na Escola Municipal Vicente Vieira, em Garuva-SC. Policial Militar desde agosto de 1989, atualmente está destacado na PM de Garuva. Historiador formado pela UNIASSELVI e Pós-graduado em História Cultural pela FACEL de Curitiba-PR. Casado com Viviani, Pai do Giovanni e da Fernanda. Um Garuvense Feliz e Realizado!

sábado, 15 de agosto de 2009

PERFIL

O Nascimento.



Edevânio Francisconi Arceno, filho de Antônio Arceno e Luiza Francisconi Arceno, nasceu em 31 de Janeiro de 1971, na cidade de Garuva, Santa Catarina. Sua mãe trabalhava de cozinheira em um restaurante e seu pai trabalhava no posto de gasolina chamado Auto Posto Gaúcho, que ficava em frente ao restaurante e ambos próximos ao principal trevo de acesso ao município de Garuva.


O casal Antônio e Luiza morava em um quarto nos fundos do restaurante, que era de propriedade de um parente, e ali nasceu a criança que recebeu o nome de Edevânio por indicação de uma tia que seria sua futura madrinha.


Seus pais mudaram muitas vezes até se estabilizarem em Garuva. Seu pai começou a trabalhar na Tigre e sua mãe trabalhava no açougue com o avô Defendi. Mas um trágico acidente automobilístico em 30 de Agosto de 1978 na Br 101, levou seu avô embora e fez com que sua mãe mudasse de profissão, então começou a trabalhar de lavadeira.Assim conseguiram construir sua primeira casa própria. Uma meia água, construída na rua XV de novembro, a última casa da esquerda. Foi neste ano que Edevânio começou a estudar!



O Primeiro dia de Aula.



Como sempre, o primeiro dia de aula para algumas pessoas pode ser traumático e para o Edevânio, não foi diferente. Ele nunca ficou em nenhum lugar sozinho sem a supervisão dos pais, porém tinha a companhia de seu primo Elízio, conhecido com Ida, então, não foi tão difícil assim. Acontece que a socialização na escola, nem sempre é tão simples, e nesta busca de achar seu lugar naquela sociedade mirim, conseguiu fazer muitas amizades, mas acontece que a filha de uma funcionária da escola, que nem estudava em sua turma , decidiu não gostar dele, este foi o principio de uma situação que duraria muito tempo. Por várias vezes ele teve que fugir desta menina, pois ela tinha o dobro do seu peso e tamanho. A situação estava ficando cada vez mais desesperadora, até o dia que resolveu enfrentar aquela situação de frente. Desafiou a dita menina para um duelo, a mesma disse que sim, então no dia e horário marcado, as coisas foram colocadas em pratos limpos. Acontece que a mesma tinha dois irmãos, que eram maiores que ela, só que o Edevânio não estava só, ele tinha seu destemido primo Ida, lembram? Pois é, ele deu no pé, ainda bem que Edevânio fez amizade com os irmãos dela, senão...!




A Quarta Série.


É interessante esta coisa de um dia estar por cima e no outro você esta completamente por baixo. Isto acontece quando você sai da quarta e entra na quinta série. Porque um dia você é um dos maiores, o mais experiente, o mais inteligente e derrepente no outro você não passa de um novato, que sequer entende esse negócio de troca de professor, enfim, você tem de começar tudo de novo. Este talvez seja o aprendizado mais significativo das séries iniciais, uma lição para a vida inteira!


A quarta série do Edevânio foi tudo isso e muito mais. Sua professora era a Sra. Lídia Elisabeth, muito carinhosa e prestativa. Foi nesta série que ele começou a demonstrar facilidade na produção de textos.


Nas aulas de português a professora Elisabeth solicitava periodicamente redações , ele escreveu várias, porém duas delas chamaram a atenção da professora. A primeira intitulada, “Um crime em Insetolândia”, tratava da narrativa de uma investigação, comandada pelo Inspetor Murisóca, que exaustivamente procurava o assassino de um Ser Humano. Depois de várias investigações e depoimentos pra lá de intrigantes, ele concluiu que o culpado era o mosquito da Dengue. (Doença, que na época começava a chamar a atenção da saúde pública).


A segunda redação foi uma analogia de João e o pé de Feijão, onde foram incorporados vários detalhes de outras histórias, como por exemplo, as tias do personagem principal foram tiradas de “Cinderela”. Nesta redação o personagem principal, recebeu o nome do irmão de Edevânio, que apesar de se chamar Everaldo, todos o conhecem por “Lalau”. E quando Lalau ganhou vida na imaginação, era um menino pobre que para sustentar sua família foi incumbido de vender o único bem da família, uma vaca. Porém ele não vendeu, e com os feijões mágicos que ganhou foi correndo para casa. Irada por sua desobediência, sua tia jogou os feijões pela janela e repreendeu Lalau. Acontece que a Vaca comeu os feijões e criou asas, e Lalau passou a viver grandes aventuras voando no lombo de sua vaca. Esta redação recebeu o título de “A Vaca Voadora”.


Todos ficaram fascinados pela história, como pode uma vaca voar, perguntavam. Passaram-se os anos e Edevânio viu nas livrarias do Brasil, um livro com o mesmo título e contava uma história parecida com a sua, inclusive o personagem principal tinha o mesmo nome. Tantas coincidências deixou-o intrigado, mas fazer o que, quando não se tem “voz” para falar!


O livro lançado em 2002 foi um grande sucesso e deu a autora o status de “criadora das vacas voadoras”. Acontece que um menino já voava no lombo de uma vaca desde 1981, mas quem pode provar isto! A Senhora testemunharia professora Elisabeth?




Sete de Setembro




Dia Sete de Setembro de 1822, dia da Independência do Brasil, dia em que às margens do rio Ipiranga, D. Pedro I deu o famoso grito “Independência ou morte!”. No Brasil o dia Sete de Setembro foi transformado em feriado nacional e é celebrado com desfiles por todo o território. O desfile de sete de setembro era obrigatório na época que o Edevânio estudava. A população prestigiava em peso, margeando toda a Avenida Celso Ramos, da Delegacia à Prefeitura, para ver o desfile, que tradicionalmente era aberto pela Banda do 62º Batalhão de Joinville.


Os desfiles implicitamente externavam qual classe social os alunos pertenciam. Vamos começar pelo ápice da pirâmide para que você entenda melhor. Na parte superior estavam os alunos com maior poder aquisitivo/econômico, ou seja, eram aqueles alunos convidados para desfilarem fantasiados de: D. Pedro I, D. Pedro II, Princesa Leopoldina, Princesa Isabel, Tiradentes, José Bonifácio, Rui Barbosa, enfim toda a nobreza imperial e os heróis da república. Logo abaixo estava os da classe média que geralmente abriam os pelotões como balizas, porta-bandeiras e não podemos esquecer da fanfarra. Neste grupo os alunos menos favorecidos não eram totalmente excluídos, mas só podiam participar se fossem patrocinados por alguém. O desfile ganhava volume e beleza, quando era completado pela classe dos alunos menos favorecidos , que era a grande maioria. Naquela época, os alunos não ganhavam uniformes e tinham que comprar. Os uniformes novos tinham que ser azul e branco e o calçado era a famosa conga, que também tinha nas cores, azul e branco. Mas havia também uma classe menos favorecida ainda, que geralmente não podia comprar o tal uniforme, então eram fantasiados de índios para participarem do desfile, e neste seleto grupo estavam presentes nossos heróis destemidos, Edevânio e Elízio, isto mesmo, o Edevânio e o seu primo Ida, aquele que deu no pé, no primeiro ano lembram?


Mas como tudo tem um fim, os dias do Edevânio desfilar de Índio terminaram, não que ele tenha vergonha da sua classe social ou de usar as roupas de índio que sua mãe fazia, ainda que aquela sainha rodeada de penas o deixasse muito constrangido. Acontece que ele foi promovido e agora ele fazia parte de um outro grupo, onde ele iria desfilar pelo time infantil do CTG, um clube muito conhecido em Garuva nas décadas de 70 e 80. Estava todo orgulhoso, levantou bem cedo, pois mal conseguiu dormir, se arrumou sem que sua mãe se preocupasse e foi ao clube. Chegando lá ganhou uma camisa, um shorts, meias e pela primeira vez na vida calçou um par de chuteiras, e aguardava ansioso para sair dali, formar o pelotão e desfilar.


O ex-indiozinho já estava na fila e tudo estava pronto para o desfile, quando derrepente seu sonho começou a se tornar um pesadelo. Quando todos já estavam vestidos e prontos para começar a desfilar, uniu-se ao grupo o filho do prefeito, e ele também queria desfilar de jogador, porém não tinha mais uniforme. Atendendo a um pedido superior o responsável pelo grupo foi olhando no rostinho de cada criança do grupo e por ironia do destino seu olhar parou no nosso ex-indiozinho, que teve que tirar o uniforme e entregar ao primeiro menino do município.


Edevânio teve que voltar para casa, e uma vez que não iria mais desfilar de jogador, e também não tinha comprado uniforme, adivinhem o que estava esperando por ele? A sua fantasia de índio. Quando chegou em casa começou a chorar, chorou pela perda de um sonho, por sua decepção e humilhação . Sua mãe ao vê-lo naquela situação chorou junto, e abraçados sua mãe dizia que aquilo iria passar e que tudo isso tinha acontecido porque o pelotão de indiozinhos não podia desfilar sem ele. Ela então o arrumou colocou sua sainha de penas, seu cocar, seu arco e flechas e disse: Filho, você é o indiozinho mais lindo do mundo!


Edevânio foi à escola, explicou o que tinha ocorrido à professora e juntou-se a sua tribo, que o recebeu de braços abertos. O seu primo Ida, que ficava a sua frente na formação do desfile, não entendeu por que o Edevânio não desfilou de jogador e também nunca perguntou.


Na Segunda-feira seguinte ao desfile, o prefeito ficou sabendo do acontecido e querendo compensar, levou-lhe de presente uma bola de futebol nº. 5 novinha! Ele aceitou, porque criança não tem orgulho, e se não tem como pode feri-lo! Mas sem dúvida, a maior compensação daquele dia, foi à lição que Edevânio aprendeu com sua mãe, que lhe ensinou: “Não importa o que fazem ou que deixem de fazer, o que dão ou que tirem de você. O importante é , aqueles que te amam sempre farão mais e darão coisas melhores ainda do que você merece!”.






Ir Embora de Garuva! Por quê?





No final de 1982, Seu Antônio decidiu que era hora de mudar de cidade. Ele tinha feito isso outras vezes, certa vez ele foi embora com a família para Joinville, ficou uma semana e retornou, os motivos até hoje é um mistério para o nosso amigo Edevânio, que não ficou nem um pouquinho triste em retornar à sua amada Garuva. Mas desta vez algo dizia que era pra valer, ainda mais que a cidade escolhida por seu Antônio não era mais Joinvile, mas sim uma pequena localidade chamada Apiúna, que naquela época era Distrito de Indaial - SC e ficava bem mais longe que Joinville. Quanto a idéia de ir embora, ele também não tem certeza, mas acredita que foram várias causas que o levaram a tal decisão.


Seu Antônio tinha passado por problemas graves de saúde que o deixou hospitalizado e de cama por quase seis meses e isto mexeu com toda estrutura da família. A primeira coisa que fez foi vender parte de seu terreno ao seu cunhado que estava vindo de São Paulo para morar em Garuva. Trabalhavam em casa, com uma pequena confecção de artesanato de cipó, trabalho muito praticado na região. A produção não estava indo muito bem e por causa de sua enfermidade, era Dona Luiza que se desdobrava na confecção do artesanato e lavação de roupas, porém o dinheiro era cada vez mais escasso para manter a família. Seu filho Edevânio lembrou que certa vez depois de cortar uma maçã em quatro partes, uma para cada filho, sua mãe chorou, neste momento ele pegou umas toalhas de crochê e panos de prato bordados que sua mãe tinha em casa e saiu. Depois de algumas horas retornou com o dinheiro, havia vendido tudo e disse-lhe que se tivesse mais teria vendido. A verdade era que por mais que fizessem, a situação era cada vez pior. Ainda bem que seu Antônio se recuperou e logo começou a trabalhar.


Depois disto, ele recebeu uma proposta de emprego através de seu irmão, em uma serraria no Distrito de Apiúna, onde “davam” até casa para os funcionários. Foi a deixa que ele esperava para colocar a outra parte da propriedade a venda e ir embora.


Não precisamos nem mencionar o quanto esta decisão afetou o nosso amigo Edevânio que tinha acabado de cursar a sexta série, e seis anos na mesma escola, criaram nele uma certa identidade com a mesma, até mesmo a gordinha que outrora o perseguia, agora era sua amiga. Além disso, tinha toda uma história com o campinho de areia atrás da casa do seu Levi, o time do Flamenguinho, os passeios de bicicleta pelo traçado daquilo que seria a Rua Castro Alves, os banhos escondidos de rio na “Pedra da Raia”, (futuramente a Raia seria chamada de Bairro Geórgia Paula). Tudo isto estava prestes a se tornar apenas uma lembrança para o nosso Garuvense.


Quando chegaram a Apiúna, viram que a casa que a serraria “cedia” aos funcionários, parecia muito com aquelas casas de filme de terror. Era sem pintura, velha, grande e em cima de um morro, só faltou o uivo de um lobo! Mas o pai do Edevânio estava feliz e se ele estava feliz, o jeito era se adaptar. Depois que sua mãe matrículou ele e sua irmã no Colégio Estadual “São João Bosco”, ela foi procurar um emprego, pois precisava ajudar nas despesas da casa. Conseguiu emprego de diarista, mas como a renda era insuficiente começou a fazer coxinhas, que o Edevânio vendia nas casas e no comércio local. Por causa do emprego de sua mãe, sua irmã Nina teve que parar de estudar para cuidar dos outros dois irmãos, onde a caçula era apenas um bebê e esta decisão deixou todos muito tristes. O Edevânio também conseguiu um emprego em uma padaria, onde entregava pães aos clientes durante a semana e nos finais de semana vendia coxinhas sem atrapalhar seus estudos.


Tudo estava indo muito bem, quando derrepente toda a família começou a ficar doente, quando um melhorava o outro adoecia, e nesta seqüência de enfermidades o dinheiro que o seu Antônio tinha da venda da propriedade de Garuva acabou. Uma fase muito difícil iniciou para esta família, além disto, nesta mesma época em 1983 aconteceu uma grande enchente que vitimou todo o vale do Itajaí, o pai do Edevânio pensou em voltar para Garuva, mas não voltou. Para complicar a situação ainda mais, o padeiro descobriu através dos clientes que seu funcionário Edevânio tinha caído com a bicicleta cargueira carregada de pães e doces deixando-os cair no chão, e mesmo assim entregou aos clientes. O padeiro demitiu o jovem entregador dizendo que ele não era uma pessoa confiável. Edevânio chorou e tentou explicar que não contara nada, com medo de ser demitido, pois sua família estava passando por grande dificuldade e além do medo de perder o emprego, seu chefe deixava levar para casa, os pães e doces que sobravam de um dia para o outro, porém ele não quis saber e o demitiu.


Mas a fase ruim logo passou e tudo foi se ajeitando. Em Apiúna tinha uma malharia chamada Brandili, onde Dona Luiza e seu filho foram empregados com carteira registrada e tudo. O turno de serviço era das 14:00 às 22:00 h., ou seja, o Edevânio podia estudar de manhã e trabalhar a tarde, bem como sua mãe ainda poderia manter o emprego de diarista no período matutino. Ambos ainda trabalhavam nos finais de semana fazendo e entregando coxinhas ao comércio.


Do colégio Dom Bosco, nosso amigo pouco lembra, com exceções de alguns colegas, porém apesar de sua passagem rápida por lá, conheceu o professor de Ciências Pedro Wilson, que foi para ele um grande amigo. Com ele o Edevânio aprendeu uma frase que levaria para sempre consigo: _ "Nada é impossível, se lutarmos para conseguir”. Ele ainda continuará a fazer parte desta história no momento oportuno. Com os filhos dos outros funcionários da serraria ele fez grandes amizades. Eles o apelidaram de “GARUVA”, porque falava muito da sua cidade natal, também participou do time infantil da Serraria e venceram muitos torneios. Certa vez o “GARUVA”, conseguiu convencer sua mãe a fazer um bolo, para rifar e comprar o uniforme do time. Quando ela aceitou, ele começou a vender os bilhetes, acontece que ele foi começar a vender logo na casa do delegado do Distrito, o Dr Paulo Petzs. O delegado então perguntou se ele tinha licença para vender a rifa, “GARUVA” explicou que o time era composto por filhos de funcionários da Serraria, que não tinham dinheiro para comprar uniforme e por isso sua mãe aceitou fazer um bolo para rifar. O delegado falou à ele para não vender a rifa, pois isso não era legal pois não tinha licença. Mandou que o menino esperasse um pouco, apesar do nosso amigo pensar em sair correndo, não teve coragem! Derrepente o delegado aparece com um jogo de camisas ainda no pacote, cheirando a novo e doou ao time. O nosso vendedor de rifas saiu dali numa disparada só! Foi logo contar para os outros garotos e todos ficaram felizes! A única coisa que não agradou o palmeirense Edevânio, era que as camisas eram do time do São Paulo, porém “Burro dado, não se olha os dentes”.


Quando tudo estava normalizado, seu Antônio foi demitido, a Serraria estava passando por uma crise e houve corte de funcionários. A empresa pagou todos os direitos trabalhistas e deu um prazo para os ex-empregados deixarem as casas. E agora o que fazer?






FOMOS, FUMO e VOLTAMOS
Parte 01

Com a demissão, seu Antônio precisava decidir entre ficar em Apiúna e arranjar outro emprego ou voltar para a saudosa Garuva, afinal de contas sua esposa e filho estavam empregados. Edevânio estava ansioso e esperava que a decisão de seu pai fosse voltar. Na cidade de Apiúna existe um Posto de Fiscalização da Fazenda, parecido com o Posto Fiscal de Garuva.Várias vezes ele sonhou que ao passar com sua bicicleta em frente ao Posto, pedalava cada vez mais rápido, e da mesma forma que o carro do filme “De Volta para o Futuro”, ele e sua bicicleta desapareciam de Apiúna e surgiriam na Br 101 em frente ao Posto Fiscal de Garuva. Assim podia visitar seus amigos, parentes e os lugares que tanto deixou saudades!


Acontece que Seu Antônio recebeu uma proposta de emprego em um lugar mais distante ainda, no Distrito de José Boiteux em uma plantação de fumo. Dona Luiza e seu filho Edevânio foram até a malharia, pediram a conta e nada mais segurou esta família em Apiúna. Então chegou o caminhão de mudanças e levou não só os móveis, mas também toda família juntamente com os sonhos do Edevânio para mais distante de sua Garuva. O lugar de destino era um Distrito do município de Ibirama, chamado José Boiteux, que se pronuncia “Boatê”. Era uma pequena comunidade agrícola, que vivia basicamente da plantação de Fumo. Além disso, tinha uma Barragem que segurava as águas do Rio Itajaí Açu e também uma das maiores reservas indígenas no Sul do Brasil.


A casa de José Boiteux era mais assustadora que a outra, além de ser grande, sem pintura e isolada em um morro, ficava no lado de uma Igreja Antiga que tinha um cemitério nos fundos. O quarto onde dormiam o Edevânio e a Elenir, carinhosamente chamada de Nina, tinha uma janela que dava de frente para Igreja, automaticamente podiam ver o cemitério e às vezes, as chamas das velas pareciam entrar no quarto. Para dois adolescentes, imaginem o quanto foi traumático, porém nenhuma noite foi mais assustadora, do que a “Noite do Precioso”.


O pior é que a Igreja com o cemitério estava entre a Casa e o pequeno centro de José Boiteux, onde ficava a Escola, a farmácia, a mercearia, etc. Dona Luiza foi até a Escola Municipal “José Clemente Pereira”, e matriculou seus filhos. O Edevânio foi matriculado na 8ª Série e seu irmão Everaldo, conhecido por Lalau, na 1ª Série.


O serviço na roça fez seu Antônio voltar às origens, porém para o Edevânio tudo era novidade. A terra foi arrendada de uma família tradicional da região e tinha um morro nos fundos da casa. A preparação da terra para o plantio não é muito diferente de outras culturas, o processo é semelhante, primeiro ara-se a terra, depois passa o riscador que é puxado por um cavalo, (no nosso caso uma égua chamada Boneca), onde se fazia as leras e a terra ficava pronta para o plantio. Porém quando este serviço é feito no morro, a dificuldade é muito maior.


Na escola a adaptação não foi tão difícil, talvez por terem passado pela mesma situação no ano anterior. Os alunos também eram filhos de agricultores, funcionários da barragem e indígenas. Apesar da turma toda estar registrada nas fotos da formatura, bem poucos ainda vem à memória de Edevânio, a não ser as gêmeas Roseli e Rosangela, Álvaro, Carlos, Célio, Cesário, Rivelino e não podia faltar a Meire, a filha do dono do Posto. Talvez, por não ser comum a chegada de pessoas novas naquele Distrito, a princípio Edevânio não sentiu-se bem-vindo, mas depois ficou tudo bem.


Enquanto tudo se ajeitava na Escola, na plantação as coisas não iam nada bem. Naquele ano a região foi castigada por uma forte estiagem, não chovia há dias, então tinham que molhar pé por pé, para não perder a plantação. A chuva que castigou Apiúna e Região em 1983, agora estava fazendo falta na roça do Seu Antônio. Coitada da égua Boneca, pois era ela quem subia morro acima puxando uma Zorra com latões de água. A zorra é um veículo de tração animal parecido com uma pequena carroça sem rodas. Também estava incluído no arrendamento um cavalo velho chamado Moreno que não gostava muito de trabalhar, era lento e preguiçoso, foi com ele que o Edevânio aprendeu o sentido da expressão “cavalo negado”.


Certo dia, a Nina (Elenir) e o Vâni (Edevânio) subiram o morro como de costume, no fim da tarde para cortar baraço de batatas, (folhas do batateiral), para alimentar às criações (vaca, porco, etc.), depois de subir, tinham de descer pelo outro lado para chegar à plantação. Depois de cortar e preparar os feixes para voltar, eles viram o filho do vizinho armando uma arapuca no limite das terras arrendadas. Como não gostavam muito do tal menino chamado Clair, disseram-lhe para desarmar a arapuca e sair. Com a recusa do garoto em sair, Nina tomou a frente e “pregou a mão no ouvido”. Ele saiu chorando morro abaixo deixando a arapuca para trás. Os dois quebraram a arapuca, colocaram os feixes de baraço nas costas e foram pra casa. Eles caminhavam e riam, pois enquanto desciam, a Nina falava: __Precioso. O Vâni respondia imitando a risada do cachorro Precioso, do desenho animado “O Xodó da Vovó” produzido pela Hanna-Barbéra nos anos 80. Derrepente na metade do caminho eles avistaram a dona Luiza, que vinha com uma vara na mão e soltando fogo pelas ventas. Ela estava nervosa porque o menino que tinha sido expulso pelos dois, foi até sua casa e contou um monte de estórias. Como estavam demorando à voltar com o trato, ela foi ao encontro deles, e quando os encontrou foi logo segurando o Edevânio pelo braço e fez dar algumas voltas ao som de uma varinha cruel e resistente. A pior parte ficou com a Nina que teve de assistir primeiro o suplício do irmão sabendo que seria a próxima e assim aconteceu. A noite, os dois foram cedo para cama e ainda com marcas pelo corpo, a Nina baixinho sussurrava Preciosooo e o Edevânio dava a famosa risada do Precioso e dizia aí,aí,aí,aí!



Quer ouvir a risada Click na Imagem do Precioso.





CONTINUA...


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