Historiador e Pós-Graduado em História Cultural
21/01/2011
RESUMONo sábado de 09 de Abril de 1966, o novo município de Garuva, juntou seus legisladores para uma reunião extraordinária. A ordem do dia era fazer uma Moção de Repúdio a um dos deputados mais conceituados de Santa Catarina, o Dr. Pedro Paulo Hings Colin. Mas o que teria feito o nobre parlamentar, para que os vereadores garuvenses, representantes da comunidade o repudiasse a ponto de dizer que para o povo de Garuva, este indigno deputado seria lembrado como insano, através das futuras gerações?Palavras - chave: Moção, Pedágio, Política
1 INTRODUÇÃODerrepente uma movimentação estranha toma conta da casa legislativa da pacata cidade de Garuva, um pequeno Distrito da cidade de São Francisco do Sul, que acabara de tornar-se município no Nordeste de Santa Catarina. Aos poucos foram chegando os vereadores Werner H. Radun, Osvaldo Grun, Genésio Nunes da Silveira, Orlando Sebastião dos Santos, Tarcísio Reinert e João Vieira Lopes Júnior, número de vereadores que possibilitou o início de uma Reunião Extraordinária, onde o tema principal deliberado foi o desrespeito e a afronta de um parlamentar catarinense a todos os munícipes de Garuva.
Depois dos discursos calorosos foi decidida por unanimidade a confecção de uma Moção de Repúdio ao Deputado Pedro Paulo Hings Colin, que para a maioria dos vereadores presentes era indigno de usar o sobre nome “Colin”, devido ao laço forte que seu falecido pai, João Colin, ex-prefeito de Joinville, tinha com o município garuvense, por isso, ironicamente era mencionado como Pedro pula-cerca.
Este artigo visa resgatar este fato importante, que ajudou a construir a liberdade de expressão em plena ditadura e também a consolidar o governo democrático em um município recém criado.
2 O PRINCÍPIOApesar do Município de Garuva ter sido emancipado através da Lei nº 953, de 20 de Dezembro de 1963, sua instalação só aconteceu no dia 29 de fevereiro de 1964. Durante o ano de Instalação, Garuva teve dois prefeitos nomeados, o Sr Olivio Nóbrega e o Sr Raul Slamma, que governaram provisoriamente até 31 de Janeiro de 1966, quando houve a posse do Sr Dórico Paese, primeiro prefeito eleito de Garuva.
Naquele mesmo dia, as 14h00min com o recinto cheio de visitantes tomaram posse a primeira legislatura do município. A sessão foi presidida pelo Sr José da Costa Cidral, que coordenou os trabalhos e a apuração dos votos para compor a mesa diretora dos recém eleitos vereadores. Com seis votos, foi eleito como primeiro presidente da Câmara de Vereadores de Garuva, o Sr José Ossoviski, que assumiu o seu lugar como Presidente da Casa, que teve como primeiro ato coordenar a posse e o juramento do prefeito eleito Dórico Paese.
No Centro o primeiro prefeito eleito, Dórico Paese FONTE: Site da PMG Segundo a professora Maria Corrêa Saad, em sua autobiografia, escreveu que:
“o Senhor Dórico Paese lutou com grandes dificuldades em vista da falta de verbas [...], pois havia 03 ou 04 casas de comércio e duas Serrarias”. Esta realidade fez com que os governantes do novo município apelassem para alternativas paliativas em busca de receita para o município.
3 A TAXA DE PAVIMENTAÇÃOCom aprovação da Câmara, um dos paliativos para aumentar a receita municipal foi a criação do executivo, de uma Lei que criou a Taxa de Pavimentação. Uma espécie de Litoral Sul da década de 60, isto mesmo um pedágio!
Para o vereador Werner Radun, esta medida não agradou apenas os munícipes, mas 99% do tráfego aprovaram a medida:
“Muitos contribuintes estão se dirigindo ao Senhor Prefeito, dizendo que mesmo sem Lei continuarão pagando a Taxa, pois os mesmos confiam no alto Espírito administrativo do Senhor Prefeito Municipal,”Acontece que a cobrança de pedágio não agradou o Sr Pedro Paulo Hings Colin, ex- vereador de Joinville e eleito deputado estadual em 1963. Segundo ele, a cobrança de pedágio pelo município em uma rodovia estadual era inconstitucional. Observe a reação do deputado à cobrança da taxa, segundo o depoimento do Vereador Osvaldo Sebastião dos Santos, ou Gaúcho, antigo proprietário do Auto Posto Gaúcho:
- [..]O Vereador Osvaldo Sebastião dos Santos foi testemunha ocular da violência praticada pelo Deputado Pedro Colin, começou dizendo que a atitude estranha do deputado não era de homem com juízo perfeito, pois o deputado que com gentileza foi tratado pela Guarda do Município e pelo Sr. Prefeito Municipal, não justificava aquela atitude deputado degenerado, bastardo, play-boy, não tem outro qualificativo, pois todo o País está empenhado em atitudes de Moral administrativa, de Moral cívica, de respeito a Lei e a Autoridade; vem este deputado pregar desordem, passar por uma da Lei, faltando com os principais princípio de Educação, o deputado Pedro Pula Cerca, pois não quero mais pronunciar o nome de Colin, porque o nome de Colin para nós Garuvenses, é um nome respeitado.( (ATA nº 01 da Câmara Municipal de Vereadores de Garuva. 8ª Sessão/1ª Sessão Extraordinária de 09 de Abril de 1966. Fl.17. B)
Quando o vereador se refere com respeito ao sobrenome Colin, fez menção ao pai do Deputado, o Sr João Herbert Érico Colin, ex-prefeito de Joinville e também ex-deputado catarinense, falecido em dezembro de 1957, aos 46 anos.
A admiração garuvense pelo Dr. João Colin, foi por ele ter sido um propagador do desenvolvimento de Garuva, segundo as palavras do vereador João Vieira Lopes Junior.
- Dr. João Colin de saudosa memória, era um dos grandes propagadores do desenvolvimento de Garuva, temos aqui a marca de sua passagem, a Ponte Pênsil de São João Acima, foi doada por ele; o deputado agiu como besta humana praticou o delito diante de mais de 100 pessoas, estarrecidos ficamos com o ato do deputado, destruindo a sinalização do Município desrespeitando o Prefeito, a Guarda do Município, desconhecendo a presença de vereadores e deputados de outros Estados que estava em visita ao nosso Município. (ATA nº 01 da Câmara Municipal de Vereadores de Garuva. 8ª Sessão/1ª Sessão Extraordinária de 09 de Abril de 1966. Fl. 17.)
João Herbert Érico Colin
FONTE: Site PM de Joinville
4 MAS, QUEM FOI PEDRO COLIN?Natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Pedro Colin era bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná, formado em 1962.
Filho adotivo de João Herbert Érico Colin, de quem herdou o sobre nome e a admiração pela política. Foi vereador e presidente da Câmara de Joinville, deputado estadual, federal e presidente da Assembléia Legislativa.
Colin presidiu também por vários mandatos a cobiçada Comissão das Relações Exteriores, pelo fato de falar e escrever em alemão. Pedro Paulo Colin faleceu em 01 de abril de 2008, enquanto dormia aos 80 anos de idade, num hotel de Nova York, para onde viajou com a mulher Maria Luiza Loyola Colin.
5 A MOÇÃO DE REPÚDIOA ausência do Sr. José Ossoviski, Presidente da Câmara, não impediu que os presentes por unanimidade aprovassem a Moção de Repúdio contra o Deputado Pedro Colin. Depois de aprovada foi lida para conhecimento de todos. Segue o texto na integra, registrado da ATA nº 01 da Câmara Municipal de Vereadores de Garuva. 8ª Sessão/1ª Sessão Extraordinária de 09 de Abril de 1966. Folha 18 A.
- Pedro Colin, deputado sem compostura, indigno de representar quem quer que seja, em tempo algum, o seu??? é de fundo Físico-Patológica, é um Deputado fora da Lei, fora da ordem. Seu ato indigno perpetrado contra a população Município de Garuva, não tem qualificativa a não ser em sua mente perturbada, e seu estado Físico-Patológico a violência em que destruiu a sinalização do Município, o desrespeito ao Prefeito, a Câmara de Vereadores e a População, os palavrões contra a Lei e a autoridade constituída não lhe deixa outro caminho a não ser a cassação do seu mandato. A Câmara de Vereadores deste Município está em reunião permanente protestando contra o Deputado do vândalo, excitador da desordem, em nosso Município este indigno Deputado pessoa repudiada não lhe oferecemos segurança não lhe tributamos respeito, não lhe garantimos liberdade, não lhe daremos nova oportunidade de praticar, atos que somente bêbado pode provocar, esse indigno Deputado está marcado para sempre nos anais da história do Município de Garuva, e através dos tempos e de gerações seu nome será indigno e infame para sempre, seu ato não lhe dará outro prêmio a não ser aquele reservado aos infames desonrados, o ato violento perpetrado diante da População do Município, disse bem que representante tem Joinville, Cidade culta, cidade tão vinculada a nós Garuvenses cidade que temos como nossa Capital, nossa comarca, nossa sede Política, estamos certos que Joinville repudiará a violência deste seu representante sem pudor e dignidade, foi preciso esta revelação para que no futuro não se vote em Deputados insanos, pois estes põem em perigo as relações humanas.
6 CONCLUSÃOObviamente o Governo do Estado de Santa Catarina, que desde 31 de janeiro de 1966, estava sob o Comando do Palhocense, Ivo da Silveira, não cassou o mandato do Deputado Pedro Colin, como queria a Câmara de Garuva. Tendo em vista a Impressionante carreira política que trilhou anos após:
Na foto Pedro Colin e ao fundo o ex-governador Ivo da Silveira
FONTE: Material da assessoria da Assembléia Legislativa de SC
- 1970 - Foi presidente da Assembléia e elegeu-se deputado federal
- 1974 - Reeleito deputado federal
- 1978 - Suplente de federal assume uma vaga na Câmara
- 1982 - Elegeu-se deputado federal e votou a favor da eleição direta a presidente
- 2003 - Assume a presidência da Bescor
No entanto acreditamos que muitas vezes lembrou, do fatídico sábado de Abril de 1966, onde tentou dar o famoso “carteiraço” (Obter vantagens, devido sua posição) e foi barrado por uma Guarda Municipal mal equipada e por um prefeito linha dura, em um município recém criado, que, no entanto mostrou ter personalidade e comprometimento com o seu povo.
É notório que um político tão respeitado não se deixaria abater por um fato isolado, acontecido no extremo norte do estado. Caso contrário e se ainda tivesse vivo, teria que achar outro jeito de viajar pelo nosso país, pois nossas rodovias estão repletas de pedágios, com apoio deles, os Deputados! E agora Pedro!
7 REFERÊNCIASATA nº 01 da Câmara Municipal de Vereadores de Garuva. 8ª Sessão/1ª Sessão Extraordinária de 09 de Abril de 1966. Fls. 16,17 e 18 A.
PIAZZA, Walter: Dicionário Político Catarinense. Florianópolis : Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1985.
SAAD, Maria Corrêa. Autobiografia no Prelo.